sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Espessante alimentício: o fonoaudiólogo prescreve ou indica?


          Os benefícios da indicação da consistência alimentar adequada ao paciente disfágico pelo fonoaudiólogo são indiscutíveis.
         Nossa atuação com esses pacientes – seja nos consultórios ou hospitais, seja participando diretamente das equipes de transtornos da deglutição – está cada vez mais em destaque e com crescente valorização. Esse é o fruto da atuação com seriedade que a Fonoaudiologia tem realizado ao longo dos últimos anos, apresentando os benefícios que o nosso desempenho proporciona junto aos transtornos da deglutição. A responsabilidade do fonoaudiólogo se torna cada vez maior e, para tanto, é necessário que a área se configure na atuação baseada em evidências, com crescentes pesquisas e indagações.

comida

          De acordo com o artigo 2º da Resolução nº 356, de 6 de dezembro de 2008, que “Dispõe sobre a competência técnica e legal do fonoaudiólogo para atuar nas disfagias orofaríngeas”, cabe a este profissional, em relação ao processo de deglutição, dentre outros procedimentos:
          V – Prescrever a consistência alimentar, o volume, o ritmo de oferta, os utensílios, as manobras e posturas necessárias para administração da dieta via oral de forma segura.

         Sendo assim, o fonoaudiólogo é o profissional responsável por prescrever a consistência alimentar indicada para o indivíduo disfágico, incluindo, quando necessário, a indicação do uso de espessante alimentício*.

            Porém, não nos atentamos para a composição deste produto, que apresenta em sua composição um importante mineral para nossa saúde, o sódio, que pode se tornar maléfico à saúde quando ingerido em altas doses por tempo prolongado. O uso excessivo do sódio pode causar alterações no metabolismo do indivíduo, como aumento da pressão arterial, insuficiência renal, entre outras. Diante desta realidade, será que podemos prescrever o espessante alimentar para qualquer paciente, em qualquer quantidade, por períodos prolongados?Não seria mais responsável discutir a indicação com outros profissionais da equipe, especialmente nutricionistas e/ou médicos, para saber se a quantidade da substância que o paciente irá ingerir pode afetar a sua saúde? Cabe ressaltar que alguns pacientes disfágicos só apresentam deglutição segura para a consistência pastosa, utilizando, assim, o espessante em grande parte da sua alimentação. Como atuar diante dos casos de pacientes disfágicos crônicos, sem o prognóstico de interromper o uso do espessante?

          Vale lembrar que nos casos da necessidade de engrossantes podemos sugerir o uso de espessantes naturais; mas e para espessar a água?

      Diante destes múltiplos questionamentos, no mês de agosto de 2012, foi promovido o I Fórum Multidisciplinar sobre o uso de Espessante Alimentar em Pacientes Disfágicos, em uma parceria estabelecida entre a Equipe de Fonoaudiologia do Complexo Hospitalar de São Bernardo do Campo, o Setor de Pós-Graduação da Faculdade de Medicina do ABC e o Conselho Regional de Fonoaudiologia 2ª Região. As discussões apontaram para a necessidade de um seguimento mais rigoroso dos pacientes em uso de espessantes, considerando as particularidades de suas doenças. Por isso, é essencial a participação de fonoaudiólogos, médicos e nutricionistas na indicação e prescrição do espessante alimentar.

      Muitas discussões ainda se fazem necessárias para sanar as dúvidas em torno do assunto. É imprescindível a discussão entre fonoaudiólogos e demais profissionais da equipe em busca de respostas para garantir assistência ao paciente disfágico com segurança, qualidade e dignidade.


*Um espessante alimentar também designado por goma hidrosolúvel ou hidrocolóide, é uma macromolécula que se dissolve ou dispersa facilmente na água, provocando um grande aumento da viscosidade e produzindo deste modo um efeito gelificante.

Referencia: Comunicar – Revista do Sistema de Conselhos Federal e Regionais de Fonoaudiologia. Ano XIII- Número 55- outubro-dezembro de 2012.

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