Pesquisa mostra que sessões de fonoaudiologia
melhoram os resultados do tratamento convencional, realizado com a inalação de
medicamento antiinflamatório.
Obstrução
nasal, coriza transparente, diminuição do olfato e respiração pela boca. Estes
são alguns sintomas da rinite alérgica, que normalmente é desencadeada por
fatores como poeira, mofo, ácaro e cigarro.
A alergia atinge entre 10 e 25% da
população mundial e é considerada um “problema global de saúde pública” pela
Aria, sigla em inglês para Rinite Alérgica e seu Impacto sobre a Asma,
iniciativa internacional que conta com o apoio da Organização Mundial de Saúde.
Tratar a rinite significa conter o
crescimento dos casos de asma, doença inflamatória que atinge os pulmões e pode
até matar.
“O índice de prevalência de rinite
alérgica entre os asmáticos é de 80%”, afirma a fonoaudióloga Sílvia
Andrade, autora da dissertação de mestrado Impacto da Terapia
Miofuncional Orofacial no controle clínico e funcional da asma e da rinite
alérgica em crianças e adolescentes respiradores orais, defendida no Ipsemg,
sob a orientação dos professores do Departamento de Pediatria da Faculdade de
Medicina da UFMG, Lincoln Freire e Maria Jussara Fernandes Fontes.
Sílvia Andrade percebeu que sessões
de fonoaudiologia aliadas à inalação nasal do dipropionato beclometasona
(antiinflamatório usado no tratamento de asma e rinite, conhecido como Clenil)
melhoram os sintomas de forma significativa, ao educar o paciente a respirar de
forma correta.
O tratamento consiste em exercícios
respiratórios e musculares destinados a “automatizar” as funções respiratórias.
“O objetivo era estimular as crianças a respirarem pelo nariz”, diz a
fonoaudióloga. A importância da respiração nasal, segundo Sílvia, é que ela
“purifica” o ar antes da chegada aos pulmões, por meio da umidificação,
filtração e do aquecimento.
Antes da intervenção, o tratamento
era realizado apenas com a administração oral do Clenil, que foi substituída
pela inalação nasal. Depois de 16 sessões de terapia fonoaudiólogica, divididas
em duas sessões semanais, alguns pacientes puderam até mesmo interromper o uso
do medicamento.
A PESQUISA
A fonoaudióloga Sílvia Andrade selecionou 24 pacientes com idade entre 6 e 15
anos que apresentavam a coexistência de três patologias: asma, rinite alérgica
e respiração oral, entre 169 crianças e adolescentes asmáticos do Ambulatório de
Pneumologia Pediátrica do Posto de Atendimento Médico (PAM) do bairro Padre
Eustáquio, em Belo Horizonte. Quem tinha algum tipo de “obstrução mecânica”,
como hipertrofia das adenóides ou amígdalas, foi excluído.
A pesquisadora conta que o tratamento
teve alta adesão, devido ao esforço conjunto dos pediatras pneumologistas e dos
profissionais da Fono.
Para a co-orientadora do estudo, a
professora Maria Jussara Fontes, o fortalecimento da interdisciplinaridade
entre a Medicina e a Fonoaudiologia é fundamental, especialmente quando
empregada no controle de uma doença de alta incidência, como a asma.
Maria Jussara também ressaltou a
eficiência do tratamento. “É uma terapêutica não medicamentosa com impacto
positivo de grande significância com apenas dois meses de duração”, destaca.
Os resultados foram comprovados por exames realizados no Ambulatório de
Pneumologia Pediátrica do Hospital das Clínicas, reconhecido pela Sociedade
Brasileira de Pediatria como Centro de Referência em Pneumologia Pediátrica no
Brasil.
O orientador da pesquisa, professor
Lincoln Freire, afirma que pretende dar continuidade ao trabalho, ampliando o
número de pacientes observados durante o tratamento fonoaudiológico aliado ao
convencional.
Mas ele esclarece que o estudo atual tem “significância estatística”,
apesar de o grupo de crianças asmáticas observadas ser pequeno. “Os resultados
sinalizam que essa pode ser uma estratégia importante para ser adotada como
conduta definitiva”, prevê.
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