A maior parte das crianças
começa a falar por volta dos 12 meses. Aos 2 anos, elas são capazes de formar
frases com duas palavras, pronunciar entre 30 e 50 delas e compreender cerca de
200. Mas é claro que cada uma tem o seu próprio ritmo. Além disso, diversos
fatores influenciam o processo, como estímulos, deficiências auditivas e neurológicas
e até mesmo o sexo. “As meninas, de um modo geral, tendem a falar antes. Assim
como acontece com o desenvolvimento físico, elas são mais precoces do que eles
também na aquisição da linguagem”, explica a fonoaudióloga Irene Marchesan,
presidente da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBF).
Entre os 4 e os 5 anos, segundo a especialista, espera-se que
todos os fonemas (som das letras) já tenham sido adquiridos, incluindo os mais
difíceis como “r” e “l”. Mas até aprender a falar tudo, as crianças obviamente
irão trocar algumas letras e comer outras. Também é normal repetir palavras ou
sílabas, pois muitas vezes a fala não acompanha a velocidade do pensamento.
Quando, então, é o caso de consultar um fonoaudiólogo? “O processo de aquisição
da linguagem acontece por etapas. Primeiro a criança balbucia, depois fala
algumas palavras, monta frases, pronuncia todos os sons corretamente, e assim
por diante. Não ocorre de um dia para o outro.Se os pais, o pediatra ou a
escola perceberam que há atraso em alguma fase, vale a pena buscar ajuda de um
especialista”, diz Irene.
Fora da zona de conforto
Não é regra, mas acontece com frequência: as crianças costumam, de fato, soltar
a língua quando entram na escola. Isso porque, longe de casa, são obrigadas a
se virar sozinhas. Têm de se esforçar para se comunicar e interagir. O contato
com outras crianças e com os professores também é um ótimo estímulo para
aumentar o vocabulário e aprender palavras que fazem parte do cotidiano de
outras famílias. A escola sozinha, entretanto, não faz milagre. “Muitas vezes,
o pediatra recomenda que a família aguarde até a criança entrar na escola, por
volta dos 2 ou 3 anos. Mas se ela fala muito menos do que o esperado para a
idade dela antes disso, vale a pena fazer uma avaliação fonoaudiológica. Nem
que seja para tranquilizar os pais”, recomenda a fonoaudióloga Flávia Ribeiro,
fonoaudióloga do Hospital e Maternidade São Luiz Itaim (SP)
Por que ele não fala ainda?
Entre os problemas mais comuns que causam atraso na linguagem estão os
auditivos, os neurológicos (como autismo e síndrome de Down) e os
respiratórios. As deficiências na audição são a primeira coisa a ser
investigada. Pois mesmo que a criança tenha feito o teste da orelhinha ao
nascer, otites de repetição e outras doenças podem afetar a audição e, por
consequência, a fala. Já os problemas respiratórios, como rinite e outras
doenças que fazem a criança respirar de boca aberta, prejudicam o tônus
muscular, de modo que as palavras não são pronunciadas corretamente – o mesmo ocorre
por causa do uso exagerado de chupetas e mamadeiras.
Muitos casos de atraso na linguagem não exigem um longo
tratamento, apenas uma orientação aos familiares para estimular a criança
adequadamente no dia a dia. Em vez de dar tudo de imediato, por exemplo, eles
terão de aprender a esperar que ela peça, e não apenas aponte o que quer.
Também acontece muito de os pais ou cuidadores repetirem as palavras erradas,
do mesmo jeito que a criança, quando o melhor é ensiná-las o jeito
correto. “A linguagem e o pensamento estão interligados. A falta, portanto,
pode interferir no desenvolvimento como um todo. Aos 3 anos de idade, uma
criança já é capaz de falar do passado. Mas se só sabe apontar, como é que vai
aprimorar a habilidade narrativa?”, exemplifica Flávia.
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